Li algumas resenhas reclamando que demoram para entender a ideia, de como uma identidade pode 'entrar' no corpo de outra pessoa, como alugar um corpo e etc. Enfim, eu não tive esse problema. Imaginei como na série. E talvez esse tenha sido um problema. Porque apesar do livro partir dessa mesma ideia, esse aluguel temporário de um novo corpo, a história é bastante diferente, com objetivos distintos.
Enquanto no livro os corpos são de adolescentes sem familiares para protegerem, na série eles eram adultos que sofreram um trauma e não queriam passar pelo processo de luto, então aceitavam dormir por 5 anos. No livro, a criança assina por 3 aluguéis, na série, como já disse, é por um tempo.
Até o mecanismo de transferência de consciência é bastante diferente. Enquanto na série essa consciência pode ser criado no computador, sendo possível criar uma especialista em assaltar um banco, ou mesmo colocar a memória de uma ex-namorada/esposa que já morreu para viver mais um dia de amor, de lembrança, no livro a pessoa que transfere a consciência fica com o corpo como que meditando em uma sala no laboratório, sendo frágil e suscetível a uma série de problemas - como acontecem no livro.
Mas agora falando apenas do livro e com alguns spoilers, o mesmo veio nessa onda de distopia que está acontecendo no mercado editorial, e como tal, é em um futuro distante, onde houve uma "guerra de esporos" que matou toda a geração do meio, ou seja, dizimou os adultos. Agora na sociedade só existem crianças ou idosos. É o extremo do que aconteceria se realmente apenas privilegiássemos os extremos da sociedade na hora de vacinar e/ou proteger contra qualquer ataque. E a população idosa chega a viver 200 anos, pois a medicina evoluiu ou sei lá. Faz parte da premissa do livro. E claro que se você viveu 150 anos, algum dinheiro você tem, ou você é muito burro. Então, as crianças que tinham avós vivem uma vida de ricos, e as crianças sem, ficaram órfãos e sofrem com o abandono, com o detalhe que não podem trabalhar legalmente, pois os idosos precisam trabalhar, logo é proibido trabalhar antes dos 19 anos. Isso gera uma sociedade bem complicada.... Ainda mais que não existe a classe média. Nem entre idosos e muito menos entre as crianças. É muito estranho, para não dizer impossível, pensar uma sociedade assim. Mas ei, é uma distopia e como tal, não perguntamos como chegamos ali, perguntamos o que fazer depois dali.
O livro levanta uma série de perguntas: Se você pudesse ocupar o corpo de alguém, de uma criança, viver como ela por um determinado tempo, você aceitaria? Pagaria para largar seu corpo em um canto e usar o de uma supermodelo? Mesmo sabendo que ela está ainda ali, em algum lugar no canto...
É uma situação complicada e não duvido que haja pesquisas desse gênero acontecendo. Até porque, no caso de Dollhouse, você pode usar a tecnologia para inserir um conhecimento da sua mente, sem precisar nunca estudar por isso. No caso de Starters, o corpo do adolescente que está alugando, mantém a memória das atividade físicas praticadas antes, permitindo que o inquilino utilize essa habilidade para o seu bel prazer.
A série e o livro são coisas bastante diferentes, e apesar de eu gostar mais da série, não achei o livro ruim. Ele é apenas mais um livro distópico, enquanto a série eu nunca vi nada igual. Quero a continuação do livro para saber se irá se desenvolver em algum debate mais interessante que esse primeiro, afinal, ele é apenas uma introdução, e a ideia de alugar seu corpo (não se prostituir) tem que ser explicada com calma para que o leitor possa pensar em todas as implicações éticas e morais que essa tecnologia geraria.
E sim, a Editora Novo Conceito acreditou muito nesse livro, pois ele tem desenho atrás da capa, na época do lançamento tinha um "joguinho" na página da editora e ainda foi dublado esse book trailer que me lembrou um pouco da série:
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